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  • 'Ainda não consegui beijar minha filha': a dura realidade de dar à luz com covid-19

Fabiana Shcaira comenta notícia sobre Sara Barrías, de 34 anos, que descobriu que estava infectada pelo novo coronavírus no dia anterior ao nascimento de sua terceira filha, Anna, em um antigo hospital no centro de Milão, na Itália. ‘Ainda não consegui beijar minha filha ou sentir o cheirinho dela: com máscara, não é possível. O cheiro de recém-nascido é sempre especial, sinto falta de cheirar a minha filha.’. Disse Sara à reportagem da BBC.

  • Data :13/05/2021
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Por Giuliana De Vivo, de Milão para a BBC News Mundo

“Ainda não consegui beijar minha filha ou sentir o cheirinho dela: com máscara, não é possível. O cheiro de recém-nascido é sempre especial, sinto falta de cheirar a minha filha.”

Sara Barrías, de 34 anos, descobriu que estava infectada pelo novo coronavírus no dia anterior ao nascimento de sua terceira filha, Anna, em um antigo hospital no centro de Milão, na Itália.

Desde 10 de março, ele só conseguiu encostar na bebê usando luvas e máscara, e não a viu por vários dias.

A mesma coisa aconteceu com o marido dela, Lorenzo Norsa, de 37 anos, pediatra que há quase um mês trabalha na linha de frente na luta contra a epidemia em um hospital em Bérgamo, cidade a menos de 50 quilômetros de Milão que está entre as mais afetadas pelo coronavírus.

A data prevista para o parto era 29 de março, mas no dia 5 Sara começou a se sentir mal.

“Comecei a ficar doente. Eu já estava desconfiada porque meu marido trabalha no hospital de Bergamo”, disse.

Cinco dias depois, ela ligou para a ginecologista, que aconselhou que procurasse um hospital. Lá, fez o exame e testou positivo para a presença do vírus que causa a doença covid-19.

À medida que o número de infectados e mortos diariamente aumentava bastante, no hospital “eles já tinham espaços reservados para os infectados, com elevadores separados e exclusivos”.

“Fui a primeira a ser infectada com coronavírus naquele hospital, mas logo chegou a segunda, que também estava grávida. Depois de uma semana, já havia dez pacientes infectados com coronavírus.”

‘A primeira vez que dei à luz sozinha’

Sara passou a noite no hospital e, na manhã seguinte, foi submetida a uma cesariana.

“Lorenzo e eu já tínhamos dois filhos, mas esta foi a primeira vez que dei à luz sozinha. Foi muito mais difícil”.

Também foi difícil avisar o marido que iria fazer uma cesariana, porque na mesma hora Lorenzo estava no trabalho, na linha de frente em Bérgamo. “Eu tentei ligar para o hospital, mas eles não puderam entrar em contato com ele”, explica Sara.

“No final, tive que ligar para o diretor do setor dele e consegui”.

Com 37 semanas de gestação, a pequena Anna nasceu com boa saúde. E, mais importante, testou negativo para a covid-19.

Sem contato

Mas Sara só pôde ver a filha recém-nascida durante as primeiras 24 horas “e sempre com máscara e luvas”.

Depois, ela foi transferida para a enfermaria de terapia intensiva “não porque estava doente, mas como precaução e para monitorá-la melhor”.

Sara não amamentou, e Anna tomou leite com a ajuda de uma mamadeira.

Durante seis dias, a mãe e a menina estiveram no mesmo hospital, mas em locais separados, sem nenhum contato.

Enquanto isso, fora de lá, Lorenzo continuava sem ver seu bebê ou sua esposa: as duas estavam isoladas no hospital de Milão, enquanto ele ainda estava no hospital de Bérgamo, dando sua contribuição como médico diante da pandemia.

“Felizmente”, reflete Sara agora, “nos dias que antecederam tudo isso, nós já tínhamos mudado nossos outros dois filhos para a casa dos avós, então eles ficaram com eles, sem problemas”.

À espera do primeiro beijo

Sara pôde ver sua filha novamente apenas um dia antes de sair do hospital, e sempre usando máscara e luvas.

As duas já voltaram para casa, mas Sara permanece em quarentena.

“Eu ainda não pude dar um beijinho nela”, explica a mãe, “e sempre tenho que usar uma máscara e luvas para carregá-la”.

A mesma coisa acontece com Lorenzo, que finalmente conseguiu passar alguns dias com sua família, antes de retornar ao trabalho.

A situação da família continuará assim até que os testes tragam resultado negativo.

Sara tinha programados dois exames para o início de abril.

E será necessário que os dois testes sejam negativos para que eles a considerem recuperada e ela possa finalmente ter a proximidade que deseja com a filha.

Notícia publicada na [BBC Brasil News,](https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52155639 - ‘Ainda não consegui beijar minha filha’: a dura realidade de dar à luz com covid-19) em 03 de Abril de 2020

Fabiana Shcaira Zoboli* comenta:

A pandemia, provocada pelo novo coronavirus, trouxe situações difíceis que têm sido vivenciadas, por muitos, com pessimismo, revolta e medo, fazendo com que seja disseminada a ideia de que o melhor seria que “2020” não tivesse existido.

Mas, se asserenarmos a nossa mente e ampliarmos nosso olhar, veremos que essas mesmas dificuldades estão promovendo renúncia, sensibilização e fraternidade no interior de cada um, germinando sementes cujos frutos ainda virão.

A notícia – de abril deste ano – conta a face triste da história de Sara, que não pode beijar a filha, Anna, recém-nascida, e ainda precisou se distanciar dos outros filhos em razão do diagnóstico de covid-19, assim como o pai da bebê, que se manteve afastado da família por ser médico, atuando contra a doença.

Contudo, além da tristeza do momento, podemos nos inspirar na força desses pais, que como muitos que não tem suas histórias publicadas, renunciam, diariamente, a si mesmos, em favor dos filhos ou dos outros.

Alguns, vencendo o medo e saindo cedo de suas casas, enfrentando conduções lotadas para prover o sustento da família e após uma rotina cansativa, ainda retornam dispostos a cuidar para não trazer os riscos da rua aos familiares.

São funcionários de padarias, supermercados, farmácias, policiais e tantos outros, que deixam suas casas, todos os dias, honrando seus compromissos para com a família e a sociedade, silenciando, muitas vezes, os anseios de seus corações.

Além deles, quantos profissionais que atuam nos sistemas de saúde – desde os funcionários da limpeza até médicos, como o pai da Anna – que deixam seus próprios filhos, cônjuges e familiares para cuidar dos familiares dos outros?

Quantos renunciam ao descanso, para que, além do serviço da casa e dos compromissos profissionais, possam ajudar as crianças com as tarefas escolares e, superando as próprias dificuldades, ajudam os pequenos a se adaptarem a nova rotina que lhes tirou os amigos e as atividades infantis, redescobrindo, todos, o prazer da conviver?

Quantos filhos assumiram mais responsabilidades para proteger seus pais e quantos de nós passaram a enxergar a fragilidade dos idosos, até mesmo de vizinhos e estranhos, buscando auxiliá-los, tanto quanto possível?

Quantos que, buscando esperança, passaram a se reunir, virtualmente, vindo a conhecer ideias elevadas que mudarão suas vidas para sempre?

Quantos de nós passamos a refletir mais sobre a Vida, sobre a sua importância, fragilidade e seu real valor, buscando dar um sentido maior para a existência?

São exemplos de atos tão anônimos, quanto íntimos, ocorrendo em meio a correria do cotidiano, que mal nos damos conta das mudanças que, aos poucos, promovem em cada um de nós e que, no futuro, refletirão na sociedade.

Sem dúvida, vivemos um período desafiador neste improvável ano de 2020, mas, não tenhamos dúvidas de que as dificuldades serão superadas, produzindo o amadurecimento e a sensibilização do nosso Espírito, ajudando a curar muitos males como a indiferença e o orgulho.

Hoje, dezembro de 2020, se perguntássemos a Sara e ao seu marido se a renúncia que fizeram, naquele momento, valeu a pena, certamente, diriam que sim, pois, podem desfrutar do convívio de seus filhos, inclusive da pequena Anna, conscientes de terem feito os esforços que podiam por eles e por tantos outros.

Talvez o que a maioria deseja é que 2020 tivesse sido diferente… mas, se não é possível mudar o que passou, podemos construir um futuro mais feliz, começando agora, por vivenciar o presente com a certeza de que, com fé, esperança e confiança, venceremos todos os desafios e, deles, sairemos um pouco melhores.

Como nos ensina Leon Denis: ***“Homem, meu irmão, tem fé em teu destino, porque ele é grande. Confia nas amplas perspectivas porque elas põem em teu pensamento a energia necessária para enfrentar os ventos e as tempestades do mundo. Caminha valente, lutador, sobe a encosta que conduz a esses cimos que se chamam Virtude, Dever e Sacrifício. Não pares no caminho para colher as florezinhas do campo, para brincar com os calhaus dourados. Para frente, sempre adiante.” * ** (1)

LÉON DENIS, “O PROGRESSO”

*Fabiana Shcaira Zoboli é espírita e colaboradora do Espiritismo.net