Como era a vida antes da internet? O catálogo das 100 coisas que perdemos

O jornal El País reflete sobre o livro “100 things we’ve lost to the internet” da jornalista estadunidense Pamela Paul. A proposta da autora é compreender as razões que nos levaram a deixar de vivenciar momentos. Ela explica que não escreveu o livro para “lamentar um mundo que desapareceu”. Seu propósito é convidar o leitor a fazer uma pausa e se questionar de forma crítica sobre como tem consumido a tecnologia que, segundo Paul, “não é natural e nem inevitável”.
A íntegra da matéria pode ser acessada em:
https://brasil.elpais.com/tecnologia/2021-11-27/como-era-a-vida-antes-da-internet-o-catalogo-das-100-coisas-que-perdemos.html

O comentário a seguir é de Fabiana*

“O homem dominará, cada vez mais, a paisagem exterior que lhe constitui moradia, embora não se conheça a si mesmo. Atendido, porém, o corpo revelará as necessidades da alma (…)” ¹

Refletindo sobre a notícia, podemos nos perguntar se a internet nos trouxe mais perdas do que ganhos.

No entanto, a internet é, sem dúvida, uma grande conquista da inteligência humana sob as injunções das Leis do Trabalho e do Progresso.

Em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, Allan Kardec nos alertou que “as relações entre os povos constituem uma necessidade. A fim de mais as facilitar, cumpre sejam destruídos os obstáculos materiais que os separam e tornadas mais rápidas as comunicações.” ²

E, com a internet, rompemos barreiras e diminuímos as distâncias, modificando completamente as relações entre os povos e entre as pessoas: trocamos conhecimentos, estudamos à distância, conhecemos ideias de quem vive em culturas distantes e completamente diferentes da nossa.

Desde descobertas tecnológicas às gírias, da filosofia a dicas de serviços domésticos, todos têm espaço e voz e, nessa diversidade, ampliamos as nossas possibilidades, inclusive a de ajudarmos uns aos outros.

Durante a pandemia, a internet contribuiu para diminuir o isolamento e a solidão. A ciência compartilhou descobertas e a medicina e a psicologia continuaram seu trabalho. Cultos de todas as religiões puderam ser acompanhados a qualquer hora do dia, disseminando fé e esperança em mídias e arquivos digitais.

Habitamos um mundo onde nos ligamos, uns aos outros, por dados processados de forma inimaginável e retroceder a uma era onde eles não existiam não parece ser uma opção.

Porém, apesar de todos esses benefícios… por que ainda há tanta fome e miséria? Por quê, apesar das redes sociais dizerem que temos mais de mil seguidores, ainda sentimos solidão em patamares nunca vistos?
O plano traçado por Deus de superarmos as barreiras da comunicação seria um caminho tortuoso?

Não. A tortuosidade dos caminhos é responsabilidade nossa, pois ainda nos recusamos a trabalhar para vencer as barreiras da nossa conexão com Deus, com as pessoas que Ele colocou ao nosso redor e conosco mesmos.

Buscamos companhias nas redes sociais como se fosse mais fácil nos relacionarmos por meio de emojis. Compartilhamos ideias com estranhos e, se não conseguimos “likes”, nosso mundo real se enche de dúvidas quanto ao quem somos.

Congelamos momentos em fotos, perdemos tempo para deixá-los perfeitos, ao som de músicas que não conhecemos, e tudo postamos na expectativa que todos gostem – até aqueles que mal nos conhecem.

Em que momento, perdemos a conexão com as pessoas, paisagens e situações reais? Com amigos cheios de pontos positivos e negativos, como nós mesmos, mas que dão cor e alegria aos nossos dias! Com quem choramos e rimos, brigamos e fazemos as pazes, já que a vida real é tão cheia de encontros, desencontros e muitos aprendizados?

Em que momento deixamos de viver as dificuldades para mergulharmos num mundo de ilusão que impõe uma perfeição à custa de aplicativos ou o sentimento de aceitação somente se tivermos um número idealizado de seguidores?

Quando negamos a nossa imperfeição e o direito de errar e aprender, nós nos desconectamos de nós mesmos. Negamos a nós o direito de viver situações que não são perfeitas, nem sofisticadas, mas que tocam nossa alma. Que celular consegue captar a lembrança de um carinho ou a graça de situações que deram muito errado e que, por isso mesmo, nos fizeram rir tanto?

Será que não deixamos que o orgulho, o egoísmo e a vaidade, vícios antigos que precisamos superar à custa de esforço real, nos guiassem pelos caminhos digitais, quando deveríamos nos conduzir sob o Amor de Deus?

Amor que não se limita a um “like”; que jamais cancela ou odeia; que nos aceita como somos, tenhamos milhões ou nenhum seguidor. Amor que nos permitiu derrubar fronteiras físicas para nos darmos as mãos e evoluirmos juntos.

Que possamos aproveitar a internet para nos comunicarmos com o mundo, mas não esqueçamos do principal: nos conectar com o Amor de Deus. Que procuremos grandes ideias, realizemos compras, assistamos séries do outro lado do planeta, mas que abracemos as pessoas à nossa volta.

Fotografemos momentos divertidos, como nossos filhos com a cara lambuzada de bolo, mas guardemos essa foto em segredo para mostrar aos filhos deles, nos divertindo desde já com esse momento que levará anos para acontecer!

Saibamos postar, opinar, nos engajar, mas não esqueçamos a caridade, a individualidade, o direito do outro ser quem é. Saibamos rir do que deu errado e de nós mesmos! E, mais frequentemente, deixemos as telas para olhar nos olhos de quem está ao lado pois esta é, e sempre será, a forma mais profunda conexão entre almas.

Que a internet amplie nossas relações, sem que nos esqueçamos que a vida real, com todas as suas alegrias e tristezas, é uma aventura incrível onde Deus está ao nosso lado sempre se comunicando conosco, aguardando, apenas, a nossa conexão com Ele para tornar a nossa Vida um caminho verdadeiramente feliz!

• *Fabiana é espírita e colaboradora do Espiritismo.net.

Referências