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  • Cientistas criam leitão com órgãos que podem ser transplantados para homens

O feito da equipe de pesquisadores da universidade de Cambridge, nos EUA, é inédito, mas ainda requer mais desenvolvimento. Os cientistas estão agora monitorando as consequências da alteração genética feita nos porquinhos. Claudio Conti comenta.

  • Data :30/09/2017
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Do UOL, em São Paulo

Um dos maiores desafios para viabilizar transplantes de órgãos de porcos para seres humanos é o risco de contágio por vírus. Os chamados retrovírus endógenos do porco (Perv, em inglês) estão incorporados no código genético do animal e podem causar doenças desconhecidas em pessoas receptoras.

Utilizando a ferramenta Crispr-Cas9 de edição genética, um grupo de pesquisadores conseguiu desativar uma família desses vírus em leitões. Por ter órgãos de tamanhos compatíveis, o porco é visto como um dos animais mais promissores para resolver a falta de órgãos para doação.

Técnicas de engenharia genética já tinham conseguido sucesso na remoção de sequências de vírus do genoma do porco.

Contudo, até então, os esforços se concentravam em experiências com células. A equipe liderada por Luhan Yang, pesquisador da universidade de Cambridge, nos EUA, conseguiu realizar a façanha em animais vivos.

O estudo publicado na revista Science desta quinta-feira (11) representa novo avanço para tornar essa ideia uma realidade no futuro.

O problema são os Perv’s, que residem no DNA dos porcos. São resquícios de infecções ancestrais que se incorporaram ao código genético. Humanos também possuem essas pegadas (os Herv’s, vírus endógenos humanos), que não são prejudiciais aos portadores, mas representam risco potencial de infecção quando há troca entre diferentes animais e cultivo em conjunto de órgãos.

Leitões com órgãos sem Perv’s

Na pesquisa, os cientistas primeiro confirmaram que os Perv’s em células de porcos podem ser transmitidos para células humanas quando cultivadas em conjunto. Em seguida, foi mapeado e identificado 25 Perv’s presentes no código genético de células de fibroblastos. Essas células sintetizam componentes do tecido conjuntivo e podem dar origem a diferentes tipos de células.

Com o Crispr-Cas9, ferramenta que permite aos cientistas rearranjar códigos de DNA, foram desativados todos os 25 trechos em que foram identificados Perv’s. Aliando a edição do DNA a outras técnicas de reparo, a equipe conseguiu desenvolver células viáveis com 100% de Perv’s desativados.

Essas células foram implantadas em embriões de 17 porcas, que deram origem a 37 leitões sem sinais de Perv’s. Dos leitões resultantes, 15 estão vivos, sendo que os mais velhos estão com cerca de quatro meses de vida. O feito é inédito, mas ainda requer mais desenvolvimento. Os cientistas estão agora monitorando as consequências da alteração genética feita nos porquinhos.

Notícia publicada no BOL Notícias , em 10 de agosto de 2017.

Claudio Conti* comenta

Apesar do que possa parecer e da euforia que pode produzir com esta notícia, trazendo, muitas vezes, esperança para muitos, este não é um assunto trivial, nem, tampouco, fácil de se comentar.

À primeira vista, pode parecer um grande avanço da ciência para a manutenção da vida humana na disponibilidade de órgãos para substituição, quando necessário, tal qual o setor de peças em uma concessionária de automóveis. Porém, não estamos tratando com matéria sem vida, como um pneu ou amortecedor.

A diferença é que os animais têm vida e, onde há vida, há um ser espiritual; onde há um ser espiritual, há sentimento. Tudo muda quando lidamos com seres espirituais, decorrentes da Criação e do Amor de Deus.

A filosofia budista, datada de mais de 2500 anos, implementa o respeito pelo seres sencientes e a abstenção de “tirar a vida” sob qualquer pretexto.

Em uma conferência realizada na Universidade de Cambridge, um grupo de cientistas, dentre eles o renomado Físico Stephen Hawking, foi elaborada a denominada Declaração de Cambridge sobre a Consciência Animal, na qual declaram o seguinte: “A ausência de um neocórtex não parece impedir que um organismo experimente estados afetivos. Evidências convergentes indicam que os animais não humanos têm os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos de estados de consciência juntamente como a capacidade de exibir comportamentos intencionais. Consequentemente, o peso das evidências indica que os humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência. Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e as aves, e muitas outras criaturas, incluindo polvos, também possuem esses substratos neurológicos.”

Assim, se, por um lado, a criação de animais com qualidades especiais, mas voltada para o abate, parece ser um grande avanço, por outro lado, é nitidamente um retrocesso.

Infelizmente, ainda é muito acanhado no movimento espírita o esclarecimento da nossa responsabilidade para com os “seres inferiores da Criação” ou “nossos irmãos menores”. O espírito será sempre o responsável pelas suas ações, sejam elas boas ou não.

Mais infelizmente ainda é observarmos o consumo de animais nas casas espíritas, seja nas cantinas ou nos almoços e jantares beneficentes. A conscientização deve começar em “casa”, pois devemos lembrar de uma frase muito repetida em palestras e estudos espírita: “É preciso dar o exemplo.”

  • Claudio Conti é graduado em Química, mestre e doutor em Engenharia Nuclear e integra o quadro de profissionais do Instituto de Radioproteção e Dosimetria - CNEN. Na área espírita, participa como instrutor em cursos sobre as obras básicas, mediunidade e correlação entre ciência e Espiritismo, é conferencista em palestras e seminários, além de ser médium psicógrafo e psicofônico (principalmente). Detalhes no site www.ccconti.com .