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Muitos de nós passamos uma parte enorme do tempo nas redes sociais. Um estudo global em julho de 2022 estimou que uma pessoa passa, em média, duas horas e 29 minutos por dia nesses aplicativos e websites — cinco minutos a mais do que no ano anterior. Ana Claudia Marino comenta.

  • Data :04/04/2024
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‘É libertador’: as pessoas que abandonam as redes sociais

A matéria da BBC News se baseia na experiência de uma profissional que atua como coach especializada em ajudar pessoas com alcoolismo, para suscitar um debate muito atual: para algumas pessoas o que pode ser apenas um mal hábito, pode se tornar dependência em outras, a ponto de necessitarem de ajuda externa para se libertarem do vício. O Reino Unido mantém centros de tratamento de dependência em redes sociais que registraram um aumento de 5% na busca por auxílio nos últimos 3 anos. Entrevistados na matéria apontam ansiedade, baixa qualidade do sono e saúde mental como problemas decorrentes do uso excessivo das redes sociais.
A íntegra da matéria pode ser acessada em: https://www.bbc.com/portuguese/salasocial-63567891

O comentário a seguir é de Ana Claudia Marino

A autora deste comentário acessa muito pouco as redes sociais e optou por usar deste espaço para dividir suas experiências pessoais e demonstrar como elas confluíram e muito com as apontadas ao longo da matéria.
Com contas na plataforma da Meta (Instagram, Facebook e WhatsApp) e de um passado muito ativo nas redes sociais, em 2019 tomei a decisão de migrar minhas contas para o perfil business e restringir minhas postagens (que são muito poucas) para produção de conteúdo profissional. Com uma média de 1 postagem por mês, escolhi preservar minha privacidade.
Não posto fotos pessoais, minha foto de perfil é a mesma em todas as redes e todos os que visitam minha casa já sabem que nos reunimos para celebrar a vida e não para mostrá-la a todos (amigos, familiares, conhecidos e totalmente desconhecidos) - é como me sinto quando vejo uma foto de um momento pessoal compartilhado numa rede social.
Isto não significa que não tenho registros de vídeos e de fotos de vários momentos vividos. Mas que são compartilhados de forma muito privativa apenas entre os participantes porque é isto que, para mim, significa a palavra compartilhar, conforme o dicionário Oxford Languages: “ter ou tomar parte em”.
Desde que comecei a estudar a Doutrina Espírita passei a me questionar acerca da necessidade de alguns em mostrar a todos o que fazem, como vivem, o que comem, como se divertem, como suas vidas são ou parecem ser interessantes, e, o mais relevante: como eu estava me enquadrando neste contexto.
Não abandonei por completo, muito embora ainda acesse uma vez por semana para assistir e compartilhar com os mais próximos vídeos engraçadinhos de bichinhos com seus tutores, mensagens edificantes e reflexões das mais variadas profissões de fé.
Em minhas postagens profissionais, apenas divulgo cursos de minha área de atuação e informações pertinentes e de interesse coletivo.
O que descobri quando tomei a decisão de abandonar as redes sociais? O valor do tempo.
O benfeitor espiritual Emmanuel, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, traz em seu livro “Justiça Divina”, a mensagem “Diante do tempo”, em que nos alerta: “Observa, contudo, o que fazes do tempo e vale-te dele para instalar bondade e compreensão, discernimento e equilíbrio, em ti mesmo, porque o dia que deixas passar, vazio e inútil, é, realmente, um tesouro perdido que não mais voltará.”1
A partir desta reflexão, me questionei sobre quantas horas gastava em deslizar o dedo para cima e para baixo em cada rede social. Me senti como que dopando minha mente com fotos e vídeos de conteúdos que sequer me interessavam. Foi aí que entendi perfeitamente o funcionamento do algoritmo. Por que eu estava recebendo aquelas informações se elas não tinham o menor significado para mim?
Passei, então, a focar em conteúdos que entendia mais produtivos. Ainda assim, o tempo gasto era enorme se comparado com a profundidade daqueles conteúdos.
Aí me deparei com uma reflexão valiosíssima de Paulo, em sua epístola aos Gálatas, 6:10, “…Enquanto temos tempo, façamos bem a todos…”2 Emmanuel costuma usar de elementos da natureza em suas mensagens. Com a realidade do home office na minha vida, passei a admirar mais as plantas, os pássaros e o céu. E comecei a entender mais profundamente os exemplos do benfeitor quando diz: “Falando ou silenciando, agindo ou repousando, promoveremos lavouras diversas, no campo do Espírito, que decidirão de nosso futuro.”3
Foi quando entendi que o problema não está nas redes sociais e sim no uso que fazemos dela. E esta é a beleza do exercício do livre arbítrio de cada um de nós.
Esta que vos escreve, experimentou uma sensação de liberdade ao se distanciar das redes sociais.
Neste momento profissional, estou ainda aprendendo a me educar a colaborar com o aprendizado de meus clientes de que o WhatsApp é um meio de troca de mensagens, mas não de respostas necessariamente instantâneas. Neste processo de auto educação, para dar conta da família, dos compromissos profissionais, dos estudos doutrinários, dos serviços assistenciais, das atividades na divulgação da Doutrina Espírita, de compartilhar com amigos, de vivenciar o dia a dia com meu ‘doguinho’ e de cuidar do bosque urbano que se tornou meu quintal e que me traz tantas alegrias; se fez necessário estabelecer horários e número de horas diárias dedicadas ao WhatsApp. É algo que, também, está sendo libertador, como classificou uma das entrevistadas. Porque, como diz Irmão X, na obra “Lázaro Redivivo”: “(…) os conquistadores humanos convertem-se, aos poucos, em escravos das próprias conquistas. (…) É necessário libertarmo-nos, para que compreendamos a liberdade (…) A ignorância estabelece o cativeiro, mas a sabedoria oferece a liberdade.”4 Convido você, leitor, a fazer a experiência de substituir uma hora de rede social por dia pela leitura de um livro, ou uma roda de conversas entre amigos. Experimente viver o momento com as pessoas que você ama, sem um celular por perto e se questione se abdicar de uma selfie ou de um post naquele momento foi ou não libertador.
A vivência é individual e cabe a cada um a decisão de como e onde semear.

  • Ana Claudia Marino é espírita e colaboradora do Espiritismo.net.

Referências Bibliográficas


  1. XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. Justiça Divina. Mensagem 82 – Diante do Tempo. FEB Editora: 14º edição, 2018. ↩︎

  2. Bíblia de Jerusalém, Editora Paulus: 2019. ↩︎

  3. XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. Neste Instante. Mensagem 5 – No solo e no tempo. Editora GEEM. ↩︎

  4. XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito Irmão X. Lázaro Redivivo. Mensagem 8 – Conquista e liberdade. FEB Editora: 13º edição, 2019 ↩︎