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  • Mortes pelo coronavírus no Brasil: conheça as histórias de quem não resistiu à Covid-19

Renata Federici comenta a doença causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), que já deixou mais de 5,5 mil mortos no Brasil. No mundo todo, o total de óbitos supera 220 mil. Dentre os pacientes que não resistiram à doença no país, há pessoas das mais variadas faixas etárias e de diversos estados. Há profissionais de saúde – médicos, enfermeiros, fisioterapeutas – empregadas domésticas, advogados, estudantes, aposentados, políticos.

  • Data :02/05/2020
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Do G1

A Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), já deixou mais de 5,5 mil mortos no Brasil. No mundo todo, o total de óbitos supera 220 mil.

Dentre os pacientes que não resistiram à doença no país, há pessoas das mais variadas faixas etárias e de diversos estados. Há profissionais de saúde – médicos, enfermeiros, fisioterapeutas – empregadas domésticas, advogados, estudantes, aposentados, políticos.

Sem uma vacina para combate ou remédio efetivo para o tratamento da Covid-19, pacientes, familiares e amigos sofrem com a severidade da doença.

Veja, abaixo, algumas histórias dessas vítimas:

O médico Edsneider Souza, de 42 anos, morreu na madrugada de terça-feira (28) em Vassouras (RJ) após sete dias de internação. Edsneider trabalhava em uma Unidade Básica de Saúde do município, como professor universitário e em um hospital em Paulo de Frontin, cidade vizinha. Ele era casado, deixou uma esposa e uma filha de quatro anos.

Natural de Do Pedrito (RS), Larissa Tarouco Mello morreu no domingo (26), aos 22 anos. Ela foi diagnosticada com leucemia em outubro do ano passado e terminou o tratamento em fevereiro deste ano. No início de março, ela contraiu uma bactéria e precisou ficar internada e passar por uma cirurgia em um hospital em Porto Alegre.

O técnico de enfermagem Douglas Barbosa de Medeiros, de 33 anos, morreu no domingo (26), em Sorocaba (SP). Douglas travava diretamente de pessoas com sintomas ou com o diagnóstico da doença. A esposa conta que, apesar do medo, ele nunca hesitou em exercer a profissão com responsabilidade e amor.

Ricardo Brennand, de 92 anos, empresário, engenheiro, incentivador das artes e colecionador pernambucano morreu em um hospital de Recife onde estava internado. Nascido no município do Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, Ricardo Brennand criou grandes indústrias: de aço, cimento, vidro e açúcar.

Morador de Itaquaquecetuba, Manoel Nogueira de Souza, de 61 anos, era porteiro. Ele morreu no domingo (26), após e 20 dias internado no Hospital das Clínicas (HC), em São Paulo. Segundo a família, Manoel tinha diabetes e problemas cardíacos. Fábio Mota de Souza, filho de Manoel, conta que o pai estava internado desde 5 de abril. “Os médicos do HC estão de parabéns. Mesmo a gente não podendo visitar, eles ligavam todos os dias”, diz.

A técnica de enfermagem Danielle Costa morreu na segunda-feira (27) em Nova Iguaçu. Antes de ser internada, ela gravou um vídeo dizendo que foi maltrata quando precisou de atendimento. “Sou profissional de saúde, me identifiquei que trabalhava na UPA, mas fui tratada muito mal. Eu queria muito que as pessoas tivessem consciência de que essa doença é uma doença grave”, afirmou.

Diógenes Moreno morreu na quarta-feira (22). Sargento da PM, ele era lotado no 14° Batalhão (Bangu) e morreu com problemas respiratórios no Hospital Central da Polícia Militar. Moreno fez o teste para detectar o vírus, mas o resultado não ficou pronto. O PM deixa mulher e duas filhas. Internado, ele chegou a enviar uma mensagem sobre a doença para um amigo. “É uma situação complicada, né? A gente só acredita quando acontece com alguém próximo. Eu tô aí de exemplo”, disse Diógenes.

José Francisco Marques Neto, de 87 anos, morreu na terça-feira (21), em Três Lagoas (MS). Ele foi prefeito de Brasilândia, no mesmo estado, entre 1965 e 1966. Marques Neto era diabético e hipertenso.

Cícero Pinheiro, de 42 anos, morreu no sábado (18), em Pernambuco. Ele era vereador e presidente da Câmara de São Lourenço da Mata. O político, que era hipertenso e diabético, chegou a ficar três dias internado. ““Essa doença é horrível. Esse vírus é muito agressivo e altamente contagioso. Foi tudo muito rápido”, disse sua irmã, Samantha Pinheiro.

Álvaro Jardim, de 26 anos, morreu no sábado (18) na Bahia. O jovem era estudante de enfermagem e funcionário administrativo do Hospital Geral de Ipiaú. A morte de Álvaro foi sentida em Ipiaú. Na cidade, ele participou de movimentos sociais, principalmente ligados à juventude. Ele também foi candidato a vereador na última eleição municipal .“Deixou legado lindo em Ipiaú. São várias mensagens, pessoas mandando mensagens, nossos amigos de infância. É o que a gente quer guardar em nossos corações. O tempo dele aqui na terra foi cumprido”, disse Sandra, irmã de Álvaro.

Djalma Ramos Damasceno, de 39 anos, morreu no dia 20 de abril em Pernambuco. Ele era motorista de aplicativo e achava que a dor nas costas que sentia era por cansaço. “É o dia mais triste da minha vida. Internei meu filho tão novo, com toda saúde, toda vida, mas apareceu uma doença dessa e levou ele. A doença levou meu filho, mas não levou a minha fé. Tenho certeza que Djalma está com Deus”, disse Gilma, mãe de Djalma.

O prefeito de São José do Divino (PI), Antônio Nonato Lima Gomes, morreu em 27 de março. Ele tinha histórico de diabetes e encarou uma evolução rápida da Covid-19, de acordo com a secretaria estadual de saúde. Aos 57 anos, Gomes integrava o Partido dos Trabalhadores. Ele deixou a esposa, Marlúcia, e dois filhos.

O aposentado Antônio Zumpichiatti tinha 70 anos e morreu no Rio de Janeiro neste domingo (19). A filha dele, Gabriella Zumpichiatti, lamentou: “Gente, a economia, emprego, trabalho, eu entendo que cada um vive uma situação, mas não tem dinheiro nenhum que vai fazer eu dar mais um abraço no meu pai, entendeu?”. A perda do pai ocorreu de forma muito rápida, segundo ela. “Em três dias que ele se sentiu indisposto, em três dias ele faleceu. A dor que eu sinto hoje eu espero que ninguém sinta também”.

O funcionário Benedito Miranda, de 65 anos, ficou internado durante uma semana em março para fazer um tratamento contra o câncer. Quando voltou para casa, começou a se queixar de falta de ar e teve de ser internado três dias depois. O diagnóstico com a confirmação da contaminação por coronavírus demorou 15 dias – em 8 de abril, Miranda morreu. A mulher de Benedito Miranda está internada. O filho do casal, Gleidson, afirmou: “Ainda não consegui absorver tudo. Meu pai morreu às 8h20, 13h eu liberei o corpo dele do Hospital do Coração. Às 14h ele estava sendo enterrado. Eu não tive luto ainda, eu estou passando por uma guerra”.

O piloto de carros César Augusto Visconti, de 43 anos, morreu em 30 de março em São Caetano do Sul, no ABC Paulista. Antes de morrer, o piloto pediu à ex-esposa, Luara, para ser cremado e ter as cinzas jogadas no Autódromo de Interlagos. “Ele era muito presente e amigo”, disse ela. César deixou a namorada, Fernanda, e a filha, Yasmim, de 15 anos.

Cláudio Manoel Ricardo, de 69 anos, morreu em 1º de abril em Montes Claros (MG). Em entrevista ao G1, o filho do idoso, Claudinei dos Santos Ricardo, contou que o pai apresentou os sintomas depois de retornar de uma viagem para São Paulo. “Infelizmente, meu pai não levou isso a sério, ele dizia que era coisa da mídia. Quando resolveu viajar, eu o alertei para não ir e mesmo sabendo dos riscos, ele foi porque não acreditava na doença. Meu pai era 100% saudável, não tinha problema de saúde e tinha feito um check-up recentemente”, afirmou.

Aos 63 anos, a diarista e cozinheira Cleonice Gonçalves foi a primeira vítima da Covid-19 no estado do Rio de Janeiro. Ela morreu em 17 de março, em Miguel Pereira, a 120 quilômetros da capital – mas pode ter sido contaminada no Leblon, onde morava a patroa, que esteve em viagem à Itália, país com maior número de mortes à época, e testou positivo para o coronavírus. O sobrinho de Dona Cleo, como era chamada, descreveu a tia como uma mulher batalhadora.

Henrique dos Santos Castro, de 71 anos, morreu de Covid-19 no dia 13 de abril, em Porto Alegre. O filho de Henrique, o poeta Allan Castro, homenageou a trajetória serena do pai. “Meu pai foi um cara que passou boa parte da vida, como ele mesmo dizia, a caminho da serenidade. Ele sabia que os passos seriam para sempre. Mas hoje, quando olho a barriga da Ana apontando para a proximidade cada vez maior da chegada da nossa filha, a Serena, me dá a certeza de que seu objetivo foi alcançado, e um sorriso parecido com o dele ameaça a voltar pro meu rosto”.

A freira Jandira Rosa Chagas, de 78 anos, morreu em Paraisópolis, no Sul de Minas, no fim de março, mas só teve o resultado dos exames revelado em 10 de abril. Conhecida como Irmã Jandira, realizava trabalho voluntário com crianças na Casa da Criança de Paraisópolis, instituição que a homenageou no dia em que ela morreu.

O médico Jayme de Oliveira Junior, de 52 anos, morreu em Natal em 19 de abril. Dr. Jayme fazia parte da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular do Rio Grande do Norte. Ele era reconhecido por pacientes e colegas como um profissional qualificado, com compromisso e respeito pela profissão, segundo o Conselho Regional de Medicina do RN.

João Batista Bueno Filho morava na zona rural de Ouro Fino, em Migas Gerais e tinha 72 anos. Ele apresentou os sintomas da Covid-19 após uma viagem de cruzeiro no Ceará, onde estava com a esposa. Foi internado no dia 24 e morreu no dia 31 de março. O exame confirmando que João Batista estava com a doença saiu apenas em 5 de abril.

Kamilly Ribeiro tinha 17 anos e ficou 20 dias internada antes de morrer em Caxias, no Rio de Janeiro, em 15 de abril. O avô da adolescente havia morrido 13 dias antes. Kamilly não tinha outras doenças, segundo a mãe, Germaine Ribeiro.

O empresário Leonildo Sassi, de 74 anos, morreu em 28 de março. Com formação acadêmica em administração e economia, Sassi, nascido em São Paulo, morava com a esposa no bairro da Pituba, em Salvador. O idoso viajou para São Paulo, onde ia participar de um congresso a trabalho. “Meu pai era meu grande ídolo, uma grande pessoa, um grande homem. Ele era um homem de família, que sempre trabalhou bastante, mas que era muito companheiro. A inspiração para todas as decisões que eu tive durante a minha vida. Uma pessoa incrível e de uma luz extraordinária”, contou Beta Sassi, filha de Leonildo.

O economista Luiz Arruda Villela, de 65 anos, morreu em 20 de março após ter ficado hospedado na casa do cientista Sérgio Trindade, nos doença nos Estados Unidos. Parte da equipe de pesquisadores que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2007, Trindade também morreu de Covid-19. Morador de Petrópolis (RJ), Villela era aposentado e adorava viajar o mundo com a esposa. O casal havia acabado de retornar do Egito, um grande sonho dele, segundo a filha, Luciana. Ela, que mora em Portugal, não teve a chance de se despedir do pai.

O professor universitário Luiz Di Souza, de 61 anos, dava aulas no Departamento de Química da Faculdade de Ciências Exatas e Naturais da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (Uern). Ele morreu em 28 de março. Entre seus projetos na universidade, o professor coordenava o grupo Fanáticos da Química, que utiliza a linguagem lúdica na popularização da ciência.

O empresário Marcos Souza, de 64 anos, morreu no dia 30 de março na Bahia. Engenheiro civil, era presidente da Engenharia Brasileira, Indústria e Saneamento S/A (Ebisa). Marcos Souza era diabético e hipertenso.

A médica proctologista Maria Altamira de Oliveira, de 71 anos, morreu em 5 de abril no Rio Grande do Norte. Ela esteve nos Estados Unidos entre 7 e 18 de março e, depois de voltar, no dia 21, começou a sentir os sintomas da doença.

A auxiliar de enfermagem Maria Madalena Barbosa Souza, de 61 anos, morreu em 12 de abril, no Maranhão. Maria Madalena trabalhava na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Vinhais e no Hospital Municipal Djalma Marques em São Luís. Junto com profissionais da saúde da UPA, ela participou da campanha ‘Fique em casa’, que tenta conscientizar a população sobre a importância do isolamento social por conta da pandemia de Covid-19.

Marlene Eunice Vanucci, de 82 anos, era moradora de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Ela foi internada em 21 de março, com quadro de febre, tosse e desconforto respiratório, sendo transferida para UTI dois dias depois. Ela morreu no dia 29 de março. A paciente também tinha doença cardiovascular crônica, diabetes mellitus e pneumopatia crônica. No dia da morte de Marlene, a nora fez um desabafo emocionado. “Quanta dor você ver um ente amado sozinho em um leito de UTI, isolada, se sentindo abandonada, porque um vírus maldito ceifou seus pulmões, tirando o oxigênio e sua imensa alegria”, escreveu.

O maestro Martinho Lutero Galati de Oliveira, de 66 anos, foi criador da rede cultural Luther King. O maestro tinha cinco décadas de produção musical. Segundo Sira, mulher do maestro, ele foi internado em 17 de março. O primeiro teste para identificar a Covid-19 deu negativo. Já o segundo deu positivo, mas o resultado só foi informado durante o processo de certidão de óbito. Galati sofreu uma parada cardíaca no dia 25 de março.

O gastrólogo Matheus Aciole, de 23 anos, morreu no dia 31 de março no Rio Grande do Norte. Formado em gastronomia e cursando o terceiro período de nutrição, ele trabalhava com os pais na loja de bolos da família e sonhava em ter uma doceria. De acordo com o irmão, Maxwell, Matheus já foi criado em um ambiente no qual a gastronomia tinha forte presença. “Ele sempre gostou dessa área e queria se especializar em doces finos, ter uma doceria”, contou Maxwell. “Viveu intensamente.”

Mauricio Suzuki tinha 26 anos, estudou direito e era apaixonado por corridas de rua. Segundo a família, o jovem tinha hábitos saudáveis. Ele morreu no dia 28 de março na capital de São Paulo após um avanço rápido da doença. Suzuki fazia um tratamento para regular o nível de ácido úrico no sangue, mas essa condição não é considerada uma doença pré-existente pelos médicos capaz de colocá-lo em risco.

O funkeiro Diego Albert Silveira Santos, mais conhecido como MC Dumel, de 28 anos, morreu em 16 de abril em Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador. O artista e a esposa, Andreza Barcellar, haviam viajado para o Rio de Janeiro após o carnaval para uma turnê que passou por algumas cidades do estado. Andreza disse que o marido era apaixonado pelo filho, Benjamin, e batalhou desde cedo para alcançar seus objetivos. Andreza também ficou internada com Covid-19, mas recebeu alta.

O advogado Nabil Kardous tinha 65 anos e levava uma vida ativa e saudável em São Paulo, para onde havia se mudado a trabalho. Sem filhos, vivia com sua mãe. Morreu em 18 de março após cinco dias internado. “Mais ninguém da família pôde se despedir dele, nem minha avó, a própria mãe dele, que está bem idosa e tem problemas de saúde. Meu pai também não, já que ele teve câncer. Foi muito triste”, disse o sobrinho de Nabil, Paul.

A maestrina titular do coral paulistano, Naomi Munakata, morreu aos 64 anos em 26 de março. Naomi foi regente do coro da Orquestra Sinfônica do Estado de Sã Paulo (Osesp) professora e diretora da Escola Municipal de Música de São Paulo. De acordo com os médicos, Naomi apresentava comorbidades que resultaram na evolução desfavorável do quadro clínico.

Rafaela de Jesus Silva, de 28 anos, que morreu por Covid-19 em Itapetinga, na Bahia, em 1º de abril, era professora, estudante de pedagogia e tinha acabado de dar à luz a primeira filha, Alice. “A filha era o sonho dela. Ela também queria muito crescer comigo na empresa”, contou Erisvaldo Lopes dos Santos, de 47 anos, companheiro de Rafaela. A filha do casal sobreviveu.

O técnico em radiologia, Sérgio Henrique Saraiva Costa, de 40 anos, morreu em 14 de abril em São Luís, no Maranhão. Serginho, como era chamado pelos colegas, trabalhou por 11 anos como técnico no Hospital de Urgência e Emergência Dr. Clementino Moura (Socorrão II), na capital. O técnico não tinha comorbidades e foi diagnosticado com o novo coronavírus quatro dias antes da morte.

A fisioterapeuta Viviane Albuquerque, de 33 anos, estava grávida quando morreu, no dia 5 de abril, em decorrência da Covid-19 no Recife. Viviane estava na 32ª semana de gestação. Uma cesariana de emergência foi feita para retirar o bebê, Erik, com 8 meses. Namorado de Viviane, o empresário Erik Silva disse que ela era uma pessoa “altamente trabalhadora” e que ia se formar em direito no meio do ano. A fisioterapeuta era mãe de gêmeas.

O fisioterapeuta Wesley Leite Soares morreu aos 34 anos em Franca no interior de São Paulo. Natural de São Tomás de Aquino (MG), ele trabalhava na rede municipal de saúde do município paulista e tinha uma cínica de atendimento particular. A doença avançou rapidamente, segundo a família. “O que mais dói é não poder se despedir. Não pode ter um velório, o enterro durou dez, 15 minutos. Coisa muito rápida mesmo. Foi muito difícil”, disse a irmã de Wesley, Daiane. Ele amava o trabalho e tinha um cuidado especial com pacientes idosos.

Yvone Gorri, de 84 anos, morreu em Campo Mourão, no centro-oeste do Paraná, em 5 de abril. Ela tinha saúde frágil e foi infectada após ter contato com o genro, que havia testado positivo para o novo coronavírus.

Notícia publicada no portal G1 , em 20 de abril de 2020

Renata Federici* comenta

As tragédias são muito difíceis de compreender e vivenciar, porém nos ajudam a refletir sobre o que é a Vida. Os desencarnes coletivos geram grandes tristezas não só nas famílias, mas em toda a sociedade. O Espiritismo vem consolar, nos lembrando que todos somos espíritos imortais em evolução, que nossa reencarnação foi planejada no plano espiritual para nosso aprimoramento durante nossa trajetória.

Os descarnes coletivos não são portanto castigos, mas um progresso para os espíritos na escola evolutiva. Allan Kardec, no Livro dos Espíritos, já questionava sobre as catástrofes, acidentes coletivos, e na pergunta 728, os espíritos esclarecem sobre a Lei de Destruição: “Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar; porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos.” Portanto, devemos confiar que mesmo sofrendo estamos a caminho da transformação da humanidade.

Muitas vezes, durante a quarentena, nos sentimos fragilizados afetados em nosso íntimo, sem forças para nos levantarmos. Nos dias difíceis busquemos refletir sobre o amor ao próximo, sobre a profundidade da Vida. Enfrentando com serenidade, vontade, exemplo e Amor poderemos transformar.

A vida em sociedade é de extrema importância para o homem, é através dos relacionamentos que desenvolve a maturidade moral, psicológica e emocional. A atual situação de isolamento incentiva ao homem conhecer-se. A solitude funciona como uma reflexão, um autoconhecimento que nos impulsiona a olhar para dentro e observar nossas ações e pensamentos; entramos em contato com nossos medos e dificuldades, nos fazemos concientes das necessidades do coletivo.

Ouvimos todos os dias, notícias sobre a doença Covid-19 com dados e informações de quantas pessoas são infectadas, número de pessoas hospitalizadas, autoisolamentos; lemos, relemos e comentamos; tratamos de ser os mais expertos conhecedores do assunto. Começamos a entender que a doença não diferencia ninguém, que acomete a todos independente de suas classes sociais, nacionalidades, gêneros, idades, crenças, rompendo as barreiras sociais criadas por nós mesmo, nos mostrando que somos todos iguais. No entanto, encaramos a morte em relação a essa Pandemia de forma impessoal e a transformamos em números.

Quando substituímos um número por um rosto, um nome, uma família afetada pela doença Covid-19, neste momento, estabelecemos uma conexão com o outro e percebemos que qualquer um pode ser acometido e podemos acometer alguém mais; inclusive quem amamos. Vivenciamos por nossas próprias histórias, o distanciamento, a solidão, a dor do outro, criando empatia e nos sensibilizando, e aprendendo que somos muito mais que um número.

Somos: pais, mães, filhos, netos, amigos, médicos, enfermeiros, agentes de saúde, técnicos de enfermagem, prefeitos, vereadores, motoristas, aposentados, pilotos, diaristas, religiosos, voluntários, agricultores, economistas, estudantes, engenheiros, professores, músicos, gastrólogos, advogados, fisioterapeutas… mas todos compartimos um mesmo sonho, viver.

É indispensável homenagear os que partiram, recordá-los com os bons exemplos, com suas alegrias e conquistas, além de cultivar as histórias de suas existências para as futuras gerações, com o sentimento de vitória pela luta a favor da vida. Quando abrimos nosso coração a conhecer quem foram essas pessoas, em que trabalhavam, quantos anos tinham; qual era seu olhar, seu sorriso, suas lutas nos assemelhamos a elas; e abrimos, portanto, nossos olhos para a solidariedade.

Devemos viver da melhor forma possível e desenvolver em nós a capacidade de sermos solidários com nosso próximo e nutrirmos em nosso espírito de bons valores para nosso futuro. Recordar nossos irmãos que desencarnaram nessa Pandemia, nos trará lições de sacrifício, abnegação, solidariedade e Amor.

No momento que somos capazes de nos identificar com as mais profundas emoções, sentimos com o outro, partilhamos a dor, as alegrias e nos transformamos em homens mais solidários. Compreendemos então a profundidade que os ensinamentos, as reflexões e sacrifícios que essa quarentena tem nos proporcionado.

  • Renata Federici é fonoaudióloga formada pela PUC-SP. É Espírita, Leitora compulsiva, Amante das palavras. Contribui escrevendo em grupos espiritualistas e é colaboradora do Espiritismo.net.