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  • Antes de morrer, garota órfã deixa carta para única pessoa que a visitava

Antes de adoecer, a menina morava em um abrigo para crianças. Foi lá onde ela e Gabriella se viram pela primeira vez. Desde então, a bancária conta que via a pequena pelo menos três vezes por semana. Marcia Leal Jek comenta.

  • Data :01/05/2019
  • Categoria :

Jéssica Nascimento

Colaboração para o UOL

“Tia Gabriella, eu estou com muita dor e já quero ir morar com o papai do céu, por isso pedi para a tia Marta escrever essa carta na agenda da Branca de Neve que você me deu (…)”

Esse é um trecho de uma carta escrita por Júlia, 8. A menina órfã tinha leucemia e, antes de morrer na última quarta-feira (9), se despediu da voluntária Gabriella Pereira, 23, a única pessoa que a visitava em um hospital de São Paulo. Ela dedicou cinco folhas de papel cor-de-rosa da agenda para escrever a mensagem final.

Antes de adoecer, a menina morava em um abrigo para crianças em Carapicuíba. Foi lá onde ela e Gabriella se viram pela primeira vez. Desde então, a bancária conta que via a pequena pelo menos três vezes por semana.

“Ela era a melhor criança que alguém poderia conhecer, inocente e muito madura ao mesmo tempo. Carinhosa, tinha uma sede enorme de aprender tudo o que qualquer pessoa tivesse paciência para ensinar”, diz Gabriella.

De acordo com a voluntária, a criança era a única do abrigo a não receber visitas de familiares. Gabriella preparou documentação e entrou com pedido para adotá-la.

“Sou muito nova e não sou casada, já tinha a consciência que não conseguiria. Mesmo assim tentei e tive apoio da minha família”, explica.

“O que ela mais queria era ter uma mãe. Pena que não deu tempo”, lamenta a voluntária que chegou a cortar os cabelos para que Júlia pudesse ter uma peruca, já que ficou careca durante o tratamento.

Repercussão

A bancária diz que soube da morte da criança por meio da ligação de uma enfermeira. Abalada, não conseguiu ler a carta. Foi a irmã dela que narrou o texto de Júlia.

“Chorei muito. Porém, seria egoísmo se eu reclamasse. Pedi a Deus para que a levasse e, assim, o sofrimento dela pudesse acabar”, relata.

A carta foi publicada um dia após a morte de Júlia em uma rede social. A postagem já tem mais de 43 mil curtidas e 22 compartilhamentos.

Em um trecho do texto, a menina agradeceu Gabriella pelos presentes, pela companhia e por ser a melhor amiga dela. Também pediu que a jovem não ficasse triste com a partida, pois estava muito doente e com dor.

A bancária também fez um apelo nas redes sociais pedindo que os pais não abandonem os filhos.

“Vocês não fazem ideia do que é uma criança crescer sem ter um apoio fixo. Não tem quem ensinar a escrever, não tem quem ensinar a segurar o garfo nas refeições, não tem quem fazer um penteado no cabelo e nem passar o batom que ela tanto gostava. Mas enfim, agora a Júlia é uma estrela e uma das mais lindas e guerreiras que pode existir.”

Leia a carta de Júlia na íntegra.

“Quero pedir obrigado por me conhecer por vir me ver e por me dar o video game que te pedi, eu sabia que era muito caro e para comprar o video game precisa vender uma casa, mesmo assim você me deu. Obrigada pela sandália de salto que me deu e por trazer aquele lanche que eu sempre vi na TV. Obrigada por vir me ver no meu aniversário e trazer o sorvete de morango.

Você é a minha melhor amiga e eu queria que você fosse a minha mãe, pedi para o papai do céu me fazer sarar, porque ai você ia arrumar os documentos e me adotar. Você disse que ia ser difícil, mas eu ia pedir para o juiz deixar você ser a minha mãe, e ele ia deixar, porque você já é grande e até dirige um carro.

Quando eu crescer quero ser bonita igual você! Também quero dizer na sua carta que eu amei que colocou bexigas no meu aniversário e levou até brigadeiro. Tia Gabi eu te amo e estou pintando as bolinhas do calendário igual você disse e só falta duas fileiras para o dia do seu aniversário, mas estou muito doente e com dor. Por isso, se eu for morar com o papai do céu, não fica triste, porque eu te amo e só você é a minha melhor amiga.

Júlia”

Notícia publicada no BOL Notícias , em 15 de janeiro de 2019.

Marcia Leal Jek* comenta

Como justificar tanto amor em meio a tanta dor?

Como explicar que duas pessoas se encontram e passam a sustentar-se tão generosamente, enquanto tantos pais e filhos, legítimos, sob o manto da família e dos bens materiais, se digladiam por outro nada?

Sem o Espiritismo, que nos traz a luz da reencarnação, edificada sobre a sólida base do Amor exemplificado por Jesus, que nos faz perceber a caminhada do espírito através da eternidade em busca da sabedoria, jamais entenderíamos.

Eis que o Espiritismo nos ensina que somos espíritos em evolução, vivenciando, em cada nova encarnação, as possibilidades de nos recuperar ante as mesmas leis divinas, que um dia infringimos. Não sabemos dizer o acontecido nas vidas anteriores destes dois espíritos, hoje protagonistas da reportagem; nem o que se deu para que estivessem merecendo tanto sofrimento, lutando para permanecerem juntas. Mas podemos afirmar que uma causa muito séria determinou tal efeito, pois Deus não erra e Suas leis são de Amor e de Justiça, não havendo lugar para o acaso. Por isto, também nos ensinou Jesus que “a cada um será dado segundo suas obras”.

A vivência do amor é apenas uma necessidade passageira ou algo a que estamos fatalmente destinados? Na nota explicativa da questão 938, de O Livro dos Espíritos , temos as seguintes considerações de Allan Kardec:

“A Natureza deu ao homem a necessidade de amar e de se sentir amado. Um dos maiores prazeres que lhe sejam concedidos sobre a Terra é o de reencontrar corações que se simpatizam com o seu, o que lhe dá as premissas de uma felicidade que lhe está reservada no mundo dos Espíritos perfeitos, onde tudo é amor e benevolência.”

Amar incondicionalmente é uma arte. Ser amado assim, um presente divino.

Pensemos nisso!

  • Marcia Leal Jek é espírita e colaboradora do Espiritismo.net.